Neste bate papo, Danilo nos conta como foi a participação sua nos Sertões e todos os desafios a bordo da sua Ducati Desert X.
Da frustração de não poder competir, a glória de subir ao pódio do maior rally das américas, Danilo Schnetzler, o Tuka, viveu “um turbilhão de emoções”, como ele próprio diz. E não foi só isso, Tuka foi o primeiro piloto a concluir a categoria Self com uma Big Trail.

Tuka tem vasta experiência no off road com Big Trail. Desde 2020 disputando provas no BITES, Danilo tem dedicado tempo a sua paixão: o motociclismo Off Road. Já não é sua primeira participação no Sertões, em 2021 o piloto também optou por correr na categoria self, já em 2022 foi com apoio da equipe Dirt Dogs, nas duas ocasiões com uma CRF 450X. Em 2024 estava tudo certo para sua terceira participação, mas uma lesão o fez adiar por um ano sua volta ao Sertões.
Este ano Tuka voltou, correu pela primeira vez com a Desert X, levantou o troféu de 5 lugar na categoria Big Trail e ainda sagrou-se o primeiro competidor a concluir a self com uma Big Trail.

Confira esse bate papo maneiro com Danilo Schnetzler, o Tuka.
- Como foi pra você voltar às competições depois da lesão que te tirou do Sertões no ano passado?
Foi um turbilhão de emoções, porque meus desafios iam muito além da lesão. Foi uma fase complicada em vários sentidos. Então, diante de tudo isso, voltar foi como um recomeço — mas dessa vez, mais forte e mais consciente
- O que te motivou a enfrentar o desafio do Sertões logo na categoria Self — e com uma Big Trail?
Andar com a minha moto! Definitivamente. Gosto muito dela. Me identifico genuinamente com a marca, principalmente com seu visual. Além disso, também foi o apoio da Ducati Campinas que foi fundamental para minha participação. Sem eles nada disso teria acontecido.
- Para quem não conhece, como funciona a categoria Self no Sertões? E o que ela exige do piloto?
A categoria self foi criada para tentar remeter a forma original do rally dos sertões. No começo os pilotos não tinham nenhum tipo de apoio. Hoje o piloto da categoria self tem apenas apoio logístico de seus pertences e troca de pneus e mousse. Os pilotos da categoria devem dormir em barracas, dar manutenção em sua moto e gerenciar muito bem todas as pequenas tarefas do dia a dia, assim como sua prova, exigindo que carreguem também mais “ferramentas internas” do que o normal. Precisa ter resiliência mental e física, ser estrategista para usar a pouca energia disponível nas atividades de maior importância e saber dosar muito bem velocidade e cautela. Um tombo bobo pode desencadear um adicional de tarefas ao longo dos dias podendo comprometer a conclusão da prova.

Rally dos Sertões 2025 por @wags.photo / Fotop - Como é pilotar e se manter competitivo sem a estrutura de apoio que os outros competidores têm?
Quem corre na categoria self precisa entender que como remete aos primórdios do rally, seu objetivo acaba também sendo o mesmo, o de meramente terminá-lo. É preciso ter consciência que o desgaste físico será dobrado e o tempo de descanso físico e mental é a metade da dos pilotos com equipe. Além de gerenciar seu equipamento, seu corpo e sua mente, precisa gerenciar seu EGO. A velocidade é algo intrínseco aos adoradores de rally e se ver ultrapassado sabendo que poderia acelerar mais é agonizante. Então precisamos ter foco no objetivo principal. Acelerar sempre dentro de uma margem de segurança 2x maior. A única forma de extrair mais performance é aprimorar a técnica e a forma física para que possa aumentar a velocidade mantendo a margem de segurança e de desgaste físico.
- Quais foram os momentos mais solitários ou desafiadores da prova?
Eu particularmente não me senti solitário em nenhum momento. Acredito inclusive que a principal característica que faz com que pilotos retornem na categoria seja justamente a sensação de solidariedade e amizade entre os pilotos da self, afinal, contam apenas com a ajuda uns dos outros o que os aproxima criando laços de amizade e parcerias que podem ser para a vida toda.
Agora, desafios… Eles já começam antes mesmo do rally. Desde a preparação de equipamentos ao mental.
Durante a prova tive dois momentos marcantes: A primeira foi correr a 4a etapa após um dia exaustivo de manutenção da moto onde tive que tirar o tanque dela para apenas limpar o filtro de ar e tive apenas 3h30 de sono para descansar. De quebra, foi a etapa com mais trial, onde subimos e descemos 3 serras e pegamos um trecho curto mas de areia muito pesada no final. Mas consegui concluí-lo.
O segundo foi a 6a. etapa. No dia anterior também havia sido pesado na manutenção e havia dormido pouco, mas a etapa foi muito mais pesada. Na segunda parte da prova, após o abastecimento, é quando o cansaço começa a bater, e naquele dia bateu forte por conta do acúmulo de noites mal dormidas e, pra piorar, tivemos 60km de areia do raso da catarina, pesadíssimo. Logo no início da areia foi em trecho muito sinuoso com curvas fechadas com cavas de areia de aproximadamente meio metro e vegetação seca que não nos permitia espalhar ou meramente ficar nas cavas pois éramos atingidos pelos galhos nos arremessando para o meio da estrada e nos derrubando. Só no trecho sinuoso caí 3 vezes. Quando cheguei nas retas de kilômetros, provavelmente pelo cansaço não conseguia ficar no meio da estrada para evitar os galhos e caía nas valas, e todo o ciclo de arremesso de piloto era repetido rs. Parei em uma clareira para descansar. Estava estafado. Parei por 1hr aproximadamente. Nessa 1hr pensava a todo momento em não desistir, que terminaria a qualquer custo. Já estava sem água e geis de energia. Pela planilha foi possível ver que a 5km teria um carro da técnica no km 305. Me arrastei até lá levando mais 4 tombos. Lá consegui agua e energético. Queriam que eu abandonasse mas eu não queria e disse que tentaria chegar até o próximo carro da técnica que estaria a mais 5km e la definiria. Depois de mais um descanso repeti mais 5km de tombos e esgotamento total. Além disso, os UTVs começaram a me ultrapassar, alguns quase bateram em mim. Ali vi o perigo iminente e ainda tinha mais 30km de areia pela frente. Decidi então, a duras penas, abandonar a etapa.
- Você foi o primeiro a completar a Self com uma Big Trail. Como foi pilotar a Ducati Desert X nesse tipo de prova?
Foi bom demais! Mesmo sendo exaustivo e com várias limitações, eu estava ali com a moto que eu amo! Que eu uso para viajar, para ir à academia, pra competir no BITES e para quase tudo! A desert X para mim, foi desenvolvida para rally. Tem em seu DNA. Mas com equipe (risos). Na self, as condições podem tornar a experiência mais perigosa do que ela já é.

Foto: Fotop/Magnus Torquato - Teve algum momento em que pensou que a moto não iria aguentar ou que seria melhor estar com uma moto menor?
Nenhum. A moto me passou confiança do início ao fim. Na verdade ela aguentou mais que eu! Sempre estive confortável nela e em nenhum momento quis ter estado em outra. Gostaria apenas ter tido mais tempo para me preparar fisicamente pois por conta da lesão no joelho, pude voltar a treinar com a moto a apenas 60 dias do rally.
- O que essa conquista representa para os amantes das Big Trails no Brasil?
Acredito representar a possibilidade de realização de um sonho. De correr um grande rally, com sua moto, na forma menos cara possivel, desde que a preparação seja adequada a grandiosidade do sonho.
- Qual foi o trecho mais difícil da prova e por quê?
Com certeza o raso da catarina! É uma estrada estreita, praticamente um corredor de areia funda e pesada, sem áreas de escape e extremamente longa. Fiz todo aquele trecho em 2021 com uma crf450x e já foi extremamente cansativo.
- Teve alguma história curiosa, engraçada ou inesperada durante os dias de Sertões que vale a pena contar?
Um competidor da Self levou um tombo na terceira etapa rasgando suas calças bem na região do saco escrotal (suas bolas). Quando cheguei no final da especial, o vi tomando soro ao lado do paramédico, sentado. Fui perguntar o que tinha acontecido e quando me aproximei, vi o rasgo nas calças e suas partes literalmente penduradas pra fora da calça. Graças a Deus como dizem, “os competidores da self tem 3 culhões”. Ele disse que um ficou no capote, mas que os outros dois continuavam ali, apenas com escoriações leves (risos).
- Como foi a sensação de cruzar a linha de chegada e ainda garantir o 5º lugar na categoria Big Trail?
A sensação de terminar o rally foi extasiante (me arrepiei aqui só de lembrar). Não sei porque achava que não havia pego pódio. Eu não estava acompanhando os resultados com receio de que eles atrapalhassem meu foco. Mas como no último dia o Rafael tinha me ultrapassado, achava que estaria fora do pódio. Quando descobri que mesmo assim ainda estaria lá… A euforia tomou conta… Acredito que dos 5 competidores que lá estavam, fui o que mais vibrou, mesmo estando no degrau debaixo. Pra mim representou a vitória máxima, não só no rally, mas da superação dos problemas que a vida me apresentou. Esse pódio representou pra mim a sensação quase plena de alegria.
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O que você espera que sua participação represente para outros pilotos do BITES e do mundo off-road em geral?
Gostaria muito que representasse a superação de nossos medos e problemas. Que representasse que se você tem um objetivo/vontade ou desejo, que vejam que é possível alcançá-lo se você se dedicar bastante e não deixar se abater pelos obstáculos que com certeza aparecerão. Que nunca desistam de seus sonhos.
Foto: Fotop/Marcelo Maragni
Parabéns Tuka!



